Episódio 48 | Encontros Esperados

[Fesant]

Um gato de pelagem escura apareceu diante de Inozaki na tarde daquele dia. Normalmente seria algo que passaria totalmente por despercebido, mas um olhar mais atento ao animal revelou olhos de aparência amadeirada, o que era suficiente para desviar o ninja de seu caminho e seguir o felino. Minutos depois, já se encontrava em uma das ruas mais remotas da vila, próxima de seus limites, frente a um casebre aparentemente abandonado. O Yamanaka se certificou que não estava sendo seguido durante o caminho, e somente ele e aquele que o esperava deveriam estar presentes naquele local deserto.

O gato arranhou a porta do casebre e fez a porta se abrir, mesmo com a pouca força que tinha. Entrou no lugar e desapareceu em meio a escuridão das sombras espalhadas pelos cantos da velha casa. O ninja mascarado avançou dois passos, e logo que o fez, uma voz surgiu do fundo escuro da casa.

— Bem-vindo de volta a Konoha, Inozaki. — foi o dito pela inconfundível voz de Omeshirama, que dava alguns passos à frente, saindo do escuro para deixar seu rosto iluminado pela única fresta de luz que havia ali, produzida pelos raios de sol que entravam por um buraco no telhado. — Sua missão dentro do grupo de Jouichirou foi bem proveitosa... Foi até nomeado como assistente na reunião de líderes... É realmente um bom feito. Não sei o que fez, nem como fez, para ganhar tanta confiança, nem sei como está suas relações com Jouichirou, Zenzaki e os demais... Mas espero que não esqueça a quem jurou lealdade. Agora me diga: quais os planos de Jouichirou e Zenzaki para a reunião? Preciso de todas as informações possíveis para decidir qual caminho tomarei.

[Darthix]

A reação de Inozaki perante aquilo tudo manteve-se intacta, ou ao menos a máscara que portava mantia esta verdade. A voz ouvida o fez sorrir, não por aquele encontro matar alguma saudade ou algo do tipo — como shinobi espião jamais se rebaixaria a tal nível — mas por tudo estar ocorrendo como desejava. A aparição de Omeshirama era mais que esperada, por motivos óbvios, mas te-lo se responsabilizado por não serem vigiados ou descobertos facilitou tudo. Como espião, não prezava nada mais que alguém facilitando a sua vida. Era o esperado de alguém do nível de um Kage, ser dotado da capacidade de transformar um problema em uma situação tão simples.

— Eu fiz o de sempre: o necessário. — Disse, justificando a maneira como conseguiu alcançar a posição em que estava. O seu modo direto em responde-lo, embora parecesse certa arrogância, era mais uma forma de desperdiçar o menor tempo possível, sabendo que — dada a situação em que se encontravam — não deveriam preocupar-se com meras cordialidades. — Os planos deles são simples e passivos até que algo peça o contrário: irão até a reunião normalmente e caso algo ocorra, um exército responderá. — Inozaki sabia que tal plano era previsível, e que todas as facções dentro de Konoha fariam pelo menos a mesma coisa, então decidiu prosseguir sem pausas. — Fiquei sabendo que antes da tal reunião, um grupo será mandado para investigar por provas da falsa Kyuubi. Sinceramente, prefiro não atrapalhar ou me envolver nesta parte. Se algo puder ser feito para prejudicar Masayoshi, eu torço para que ocorra.

Retirando a máscara, deu continuidade ao que pretendia falar, embora desta vez se tratasse de verdade em planejar o que estava para ocorrer, ao invés de simplesmente agir como um mensageiro. — Eu particularmente não gostaria de ficar de braços cruzados, o que me leva a um favor seu, Omeshirama-sama. Gostaria de aproveitar a reunião fora de Konoha e uma outra distração em que estou trabalhando para investigar o clã Uchiha. Eles me parecem ser piores que todos, para não dizer que a suposta aliança deles com o clã Hyuuga ser o maior problema presente neste momento. — Realizando uma breve pausa para respirar, prosseguiu: — Se você souber de algum membro dos olhos vermelhos que provavelmente detém de informações valiosas, eu gostaria da chance de ler a mente dele. O momento da reunião é perfeito para isso, eu apenas precisaria que algum subordinado seu de elite o nocauteasse e levasse até mim, para eu investigar a fundo as memórias. As informações eu compartilharei com você, logicamente, e caso algo dê errado e alguma suspeita caia sobre você, eu me responsabilizo e assumirei a culpa. Comparado ao que já estou sendo acusado, isso não muda muita coisa. Além do mais, você precisa triunfar, não eu.

[Fesant]

O Líder Senju ouviu as informações até o final, para depois comentá-las. — É... tendo em vista que Jouichirou passou um tempo longe de Konoha, e próprio Zenzaki não vem aqui há 10 anos, não há muito mais sobre o que planejar. Além do que, estão tentando resolver tudo diplomaticamente, e um plano mais agressivo que isso seria perigoso. Quanto a Masayoshi... eu prefiro não me envolver com ele, mas como os exilados já pretendem fazer algo quanto a isso, melhor. Inclusive... Embora seja difícil, vou tentar arranjar alguma forma de ajudar essa missão internamente. Para mim vai ser muito útil que essa missão seja bem-sucedida. Por fim, quanto a esse “favor”...

Omeshirama parou a fala. Levou a mão direita ao queixo, como quem reflete sobre algo. Depois cruzou os braços, mantendo seus olhos verdes sobre a face já sem máscara de Inozaki. Somente após esses minutos de silêncio é que prosseguiu.

— Sobre esse favor... Fiquei um tanto surpreso. Parece que, de alguma forma, possuímos formas de pensar semelhantes... — disse, apontando para trás e dando um passo para a esquerda pra facilitar a visão daquilo que apontava. A imagem de Omeshirama e a própria falta de luminosidade mudaram o foco de Inozaki, e não o permitiram ver que havia mais alguém naquele casebre. Era um homem, e seu rosto era a única coisa que poderia ser vista. Todo o corpo estava envolvido por um emaranhado de galhos e raízes, como uma espécie de caixão fúnebre feito de restos de árvores em putrefação, embora nenhum odor podre exalasse pelo lugar. — Apesar dessa aparência incomum, este é um Uchiha... Pelo menos de nome. — De fato, apesar da pouca luz, era possível ver que o homem desacordado tinha o cabelo loiro e curto, algo estranho ao fenótipo do clã Uchiha. — Seu nome é Yusuke. Como ele é meio que renegado pelo próprio clã, não sentirão sua falta tão cedo. Eu o capturei e o trouxe aqui para que você lesse sua mente. Fique à vontade.

[Darthix]

A reação de Inozaki foi de espanto, porém não de uma maneira desejada. Realmente não previu algo do tipo ocorrendo. De todos para quem havia servido, Omeshirama era o último que pensaria ter uma linha de pensar semelhante à sua. Isto, entretanto, veio a calhar. — Oh, que conveniente. — Disse, em razão do quanto os seus planos haviam se adiantado. Movendo-se até o corpo, ergueu o braço, prestes a colocar a palma de sua mão na testa do denominado como Yusuke. No entanto, antes de realmente toca-lo, parou. Ficou assim por alguns instantes, até que baixou o braço, para pegar a sua máscara e voltar a coloca-la. Por algum motivo, preferia fazer a leitura com sua face oculta, mesmo estando de costas para Omeshirama e com mais ninguém presente no local. Este comportamento estranho só foi finalmente justificado quando iniciou o jutsu. Se alguém conseguisse enxergar por detrás da máscara, conseguiria ver que o Yamanaka esboçava um sorriso sem igual. Ele parecia conter-se, porém de uma maneira totalmente fútil. Era como se sentisse um prazer inegável, a nível sádico, ao ler as memórias de alguém.

Ficou assim por uns quinze minutos, simbolizando o seu término com a retirada da máscara, movendo o olhar para o Senju. Respirou por um pouco, como se estivesse prestes a falar muito, quando finalmente o fez: — O clã Uchiha está se comportando de uma maneira estranha ultimamente. Estão estocando mais armamento que de costume também, além de aparentemente possuírem ligações comerciais com a vila do Som, que como você deve saber está fora dos padrões das regras comerciais de Konoha. Como se não bastasse, aquele Wataru Satoshi está sendo mantido preso na Delegacia Uchiha, ao invés de desaparecido como todos pensavam. Outro que está sendo mantido preso é Nara Haweda. Segundo as investigações e deduções de Yusuke, é provável que aquele Haweda que está dirigindo as investigações seja na verdade Yuurei, sendo a única capaz de disfarçar-se a esse nível.

Movendo o olhar para o nada, o espião cruzou os braços, encostando-se em uma das paredes daquele local. — O clã Uchiha vai tentar algo, provavelmente durante a reunião. Como suspeitávamos, eles vão ser um problema. Posso lhe dar as coordenadas exatas dos presos, mas o que pretende fazer? Recuperar eles dois parece ser a chave para derruba-los, mas de nada adianta se não conseguirmos conter o ataque. De nada adiantará as evidências se estivermos diante de um golpe ou o que for que eles estão planejando, ainda mais se os Hyuuga os ajudarem nisso. — Colocando a mão no queixo, ficou pensativo, até retornar a falar. — Tenho algumas dúvidas, entretanto. Será que Keisei concorda com esses métodos? Ou Yuurei está fazendo tudo isso pelas costas da aliança deles? Averiguar isso seria bem arriscado, entretanto. De um lado é possível desfazer a aliança mais problemática de Konoha, mas de outro, se Keisei realmente tiver concordado com isso então viramos alvo de ataque na hora.

[Fesant]

Omeshirama ouviu tudo com a máxima atenção, e não evitou expressar uma face de surpresa ao ouvir que Yuurei poderia ter tomado o lugar de Haweda, agindo em seu lugar. Após o final do relatório de informações, quedou-se a pensar sobre tudo, enquanto sei deixava escapar algumas das elucubrações.

— Yuurei disfarçada de Haweda... Apesar de ser uma dedução, é algo que faz todo o sentido, principalmente pelo modo como as investigações estão caminhando... Até um falso veneno supostamente produzido por mim foi encontrado. — ficou em silêncio, voltando a refletir de forma mais íntima antes de voltar a falar minutos depois. — Não sei porque Wataru Satoshi está preso, e tampouco me interesso por ele. Mas tentarei fazer algo quanto a Haweda, embora esteja meio que em cima da hora. Se a reunião fosse em Konoha, o policiamento Uchiha seria deslocado para fazer a segurança da reunião, e teríamos uma chance... Mas sendo fora da vila, não haverá motivo para que os Uchiha deixem a delegacia, e lá terá uma segurança ainda mais reforçada, tenho certeza. Vou tentar fazer algo a respeito e recuperar Haweda, mas não vou apostar todas as fichas de que isso dará certo...

Mais minutos de silêncio. O Senju parecia pensar cuidadosamente sobre tudo, e era natural. Qualquer passo naquela situação significava muito, e um mero erro, por menor que fosse, colocaria tudo a perder, e Inozaki sabia disso.

— Vou deixar o resgate de Haweda como plano B. De toda forma, só de possuir essa informação, e ter Yusuke preso para confirma-la, já vale muito. Com certeza isso foi ideia de Yuurei, aquela vadia... Mas também tenho certeza que Keisei concordou, afinal tudo foi muito benéfico a ele. Na atual conjuntura, tudo está muito bem arquitetado. Se for mesmo um golpe Uchiha, ajudado pelos Hyuuga, será algo difícil de resolver, até porque os Yamanaka devem apoiá-los também. Preciso de algo mais simples, mas que seja forte o suficiente para deter isso... E é aí que você entra, Inozaki. Será sua última missão para mim, antes que eu me torne Hokage: quero que sequestre Hyuuga Nagi, e a mantenha presa até o final da reunião.

Omeshirama fez uma pausa curta, provavelmente por saber que aquela ordem cairia fortemente como um peso sobre Inozaki.

— Você foi acusado de estuprar a irmã de Keisei quando estava em Suna, mas não imaginava que ela guardava sentimentos por você. Fiquei surpreso quando soube que ela procurou você assim que chegou em Konoha, e lhe falou logo após a reunião, mesmo estando na presença de Keisei... Nagi é a única coisa que Keisei realmente se preocupa, e vamos tirar vantagem disso, e dos sentimentos dela. Tenho que certeza que você irá encontra-la ainda, talvez até mesmo hoje, e quero que a capture. Não pretendo fazer mal algum à menina, mas isso será o suficiente para impedir Keisei de agir. Com Nagi sob cativeiro, vou exigir que ele esqueça qualquer golpe que esteja planejando, e que ainda me ajude a me tornar Hokage. É essa sua missão final, Inozaki.

[Darthix]

Inozaki olhou para Omeshirama enquanto se terminava de se pronunciar. Aquele pedido, de fato, parecia difícil de primeira, mas para alguém que Nagi guardava sentimentos não era algo difícil de ocorrer. Havia como sequestra-la, sem que ela soubesse disso, e provavelmente era com isso que o Senju contava, ou no mínimo seria o plano do Yamanaka. Desencostou-se da parede, assumindo uma postura firme enquanto focava o seu olhar no do homem com quem falava, pronto a dar-lhe a resposta. — Considere feito. Para isso eu provavelmente terei que mandar um clone meu durante a reunião, já que minha presença é requisitada lá, para ficar com a princesa Hyuuga enquanto tudo ocorre. Estou lhe dizendo isto apenas para que vá para o encontro com isso em mente.

Após um breve suspiro, aquela conversa parecia perto de terminar. Antes que isto ocorresse, no entanto, o espião decidiu erguer mais uma questão, como se realmente quisesse conversar sobre aquilo: — Como representante de Jouichirou, imagino que saiba o que preciso fazer durante a reunião. No entanto, vou tentar manter o meu foco em prejudicar Keisei e Masayoshi. Mais que isso seria suspeito, pelo menos até o encontro de fato começar, talvez eu consiga algo que o beneficie de acordo com a discussão que estiver sendo realizada. Na verdade, a ideia de Jouichirou é fazer Zenkaki ser escolhido, não ele mesmo. Não sei se isso estava claro para você. Isto deve facilitar, o problema seria se eu precisasse representar Zenkaki.

[Fesant]

— Sim, eu já imaginava isso antes, e já me foi confirmado pelo Conselho ontem. Jouichirou indicou o nome de Zenzaki como candidato a Hokage. Era previsível, afinal Jouichirou nunca quis de fato ocupar este cargo. — disse Omeshirama, comentando as últimas informações de Inozaki, descruzando os braços. — No mais, estou confiante que obtenha êxito em sua missão. E não precisa realmente usar um kage bunshin. Quando a tiver capturado, me informe pelos métodos que já conhece, e eu enviarei um subordinado para vigiá-la, assim você ficará livre e não correrá o risco de ter que enviar um clone à reunião... Mas fica a seu critério. Assim, aguardo boas notícias.

(...)

Chegou a noite para o Yamanaka, e com ela o momento de se encontrar com Nagi. Antes, somente planejava o encontro como forma de melhor rever e conversar com a garota. Agora, uma missão importante lhe foi dada, algo grande o suficiente para talvez mudar o rumo da reunião de líderes que ocorrerá em sete dias. Os preparativos foram feitos. No final da tarde, havia procurando Nagi a uma distância segura, e lhe comunicado por telepatia o local e hora do encontro. Depois, comunicou a Omeshirama o mesmo, pedindo a ajuda necessária para a missão.

E lá estava ele, na região norte da vila, longe o suficiente da sede do clã Hyuuga, esperando a chegada de Nagi. O local de encontro era uma viela, num pequeno bairro que foi desocupado para a construção de um novo centro de treinamento. As casas estavam, portanto, vazias de qualquer pessoa, e iluminação no lugar era somente a lua cheia que conseguiu despontar um pouco naquele céu de inverno.

O ninja não precisou aguardar muito. Na hora marcada, a menina surgiu na esquina da viela. Parou alguns segundos ali, somente olhando para o vulto escuro que lhe esperava, como quem custava a acreditar no que acontecia naquele momento. Então correu em direção a Inozaki. Seus passos ansiosos produziam o único som que ecoava naquela rua silenciosa, e se o Yamanaka pudesse ser mais atento, talvez até conseguisse ouvir o batimento cardíaco acelerado da moça que, ofegante e corada, parava frente a si pela segunda vez naquele dia.

— Inozaki-kun... — sussurrou em voz doce. E como era bela. Antes de conhece-la, Inozaki não podia imaginar e quão bonitos um par de olhos de íris brancas poderiam ser. A kunoichi levou a mão direita até o cabelo claro, prendendo parte dele atrás da orelha, num gesto tímido. Depois, sem mais conseguir se conter, abraçou o rapaz. — Inozaki-kun... Senti tanto a sua falta... Cheguei a pensar que nunca mais o veria novamente...

[Darthix]

Nos primeiros instantes, Inozaki não foi capaz de retribuir o abraço. Ficou ali, por alguns segundos, sendo abraçado e sem se mexer. Se ela não estivesse na posição em que estava e conseguisse enxergar o rosto do rapaz, veria uma enorme frustração. Mesmo para alguém que agia como espião o tempo todo, para diversos lados simultaneamente, aquela tarefa era bem mais difícil do que acreditava ser. Desde o momento em que aceitou aquela missão de Omeshirama, esta era a primeira vez que dava-se conta do que realmente havia que ser feito.

Após esta pausa de alguns segundos — que para si haviam demorado uma eternidade — reagiu e abraçou-a de volta finalmente. Segurou forte, mais do que deveria ou precisava, até finalmente larga-la e colocar as mãos em seus ombros, como se precisasse olha-la no olho. — Desculpa, Nagi-chan... E-Eu... Desculpa. Queria que estivéssemos em uma situação diferente. Queria que simplesmente pudéssemos ficar juntos. — As suas palavras soavam secas, sem pausas, advindas de um tom ofegante e inquieto. Não se tratava de nervosismo, tampouco hesitação. Era honestidade, algo que há tanto tempo não sentia ou praticava. Estando mentindo a todo o tempo, sequer conseguia-se lembrar da última vez que havia dito algo verdadeiro para alguém. A sua situação era o oposto da dos demais: ao mentir tanto e ser honesto tão pouco, agia de maneira tão desestruturada e novata na segunda que tornava-se um momento extremamente confuso. Novato, nada mais seria capaz de descrever a habilidade de Inozaki de dizer a verdade. Ele não passava de um iniciante nesse quesito.

Os seus olhos esverdeados não tiravam o foco do olhar albino de Nagi. O seu rosto denotava tristeza e frustração, que graças à situação em que estava, até serviam para disfarçar a necessidade de esconder a sua missão. Tudo o que sentiria ao ter que sequestra-la também poderia se aplicar à saudade que sentia, ao tempo que não poderiam passar juntos, fosse pela diferença de lados ou pelo crime do qual era culpado, mesmo sendo inocente. De alguma forma, não precisava esconder nada, pois tudo o que a princesa Hyuuga veria em seu rosto eram sentimentos idênticos aos que teria mesmo se não precisasse fazer aquela missão.

Naquele momento, o Yamanaka sequer sabia mais se tratava-se de sorte ou azar; talvez fossem os dois, ou simplesmente nenhum. Não portava uma máscara como de costume, parecendo que sequer havia trazido ela. Talvez estivesse pronto para abandona-la, visto que ela não ajudaria em nada no que estaria por vir. — Algum dia ficaremos juntos. Eu prometo. — Após mais alguns instantes em silêncio, desviou o olhar para o lado, como se estivesse prestes a dizer algo que não queria. — Não temos muito tempo. Se precisar dizer algo, diga agora. Acho que só nos vemos depois da reunião agora.  

[Fesant]

— Eu te amo! — foi o que respondeu a menina, de imediato, com a angústia de quem temia não ter outra oportunidade de falar algo que estava preso na garganta por muito tempo. — Te amo... Não sei como... ou o porquê... Nem passamos tanto tempo juntos assim... — a kunoichi olhava fixamente para Inozaki, ficando ainda mais corada. Era visível o esforço que fazia para abrir seus sentimentos daquela forma. — O que mais quero é que possamos ficar juntos... Não suporto mais tudo isso... Ficar longe de você, ver você sendo acusado por algo que não fez... Keisei-nii-sama não me escuta... Ele não houve sua própria irmã! Passa mais tempo trocando mensagens com o Kazekage do que falando comigo...

Nagi abraça Inozaki novamente, dessa vez mais forte. Parecia que todo o amor que a menina sentia cabia e se transmitia naquele abraço macio e quente. Tudo naquela cena era sincero: os sentimentos, os abraços e as promessas. E ambos tinham dificuldade em lidar com a sinceridade, ela por timidez, e ele por falta de costume.

— Posso mesmo confiar que vamos ficar juntos quando tudo isso acabar? Não me importo se será Keisei-nii-sama o próximo hokage, ou Omeshirama, ou quem qualquer outro... Só quero ficar com você... Posso confiar nessa promessa, Inozaki-kun?

Nagi então levantou o rosto. Com os olhos semicerrados, lentamente buscava aproximar sua face da face de Inozaki. Havia feito uma pergunta, mas a resposta que procurava não se traduzia em palavras. O rapaz fitava o belo e envergonhado rosto da moça em aproximação. Sentia o calor apaixonado de seu fôlego, o perfume que parecia ainda mais doce quando ela estava tão perto. O Yamanaka estava imóvel, hipnotizado pelo amor tão puro que lhe era dado, e paralisado pelos pensamentos do quão pouco merecedor era. Deixar-se-ia levar pelo sentimento... e os lábios já estavam próximos demais para recuar...

Mas a visão de Inozaki ficou turva, e não por vontade. Uma pancada forte e súbita foi sentida na cabeça, e suas forças rapidamente iam desaparecendo. Não houve tempo para Nagi consumar seu desejo e obter a resposta de seu amado. O plano orquestrado já havia começado.

[Darthix]

Aqueles segundos que demoraria a cair, a perder os sentidos, pareciam não terminar. Em adição a isto, não conseguir fazer nada nesse mínimo intervalo de tempo transformou tudo em uma tortura. Aquele momento pareceu eterno, soou como tal. Inozaki conseguia enxergar tudo em câmera lenta, desde o momento em que foi atingido até tocar o chão. Mas antes disso, seus olhos esverdeados testemunhavam o rosto de Nagi e as emoções que ela demonstrava, enquanto tudo ocorria. Sua boca esforçava-se para falar, para responder o que a princesa Hyuuga havia lhe perguntado, assim como os sentimentos que ela possuía. Havia tanto para dizer, para sentir. O momento estava impecável, mas infelizmente teve que terminar. — "S-Sério... Não podia esperar um pouco mais? Tsc..." — Embora o silêncio, a mente do Yamanaka não cansava de resmungar. Embora soubesse o que iria ocorrer, parecia não conseguir aceitar, ao finalmente presenciar a cena com seus próprios olhos — ou ao menos o início dela.

Finalmente caiu, apagando no ato. Aquele momento não só havia parecido eterno, como havia se eternizado por toda a sua vida. Jamais se esqueceria daquela cena, da frustração que sentiu. Desde o momento em que nasceu, aquela provavelmente havia sido a primeira vez que sentiu-se verdadeiramente humano. Ao passar toda a sua vida desprovido de sentimentos e desprezando aqueles à sua volta, jamais iria imaginar que conheceria alguém capaz de despertar a sua humanidade daquela maneira. Nunca sentiu-se tão frágil e fraco, mas por algum motivo queria sentir-se assim de novo. Quando acordasse, provavelmente este seria o primeiro pensamento em sua mente. Não havia conseguido responder à promessa de Nagi, mas faria dela verdade de um jeito ou de outro. E quando conseguisse isso, retribuiria os sentimentos da forma que ela sempre mereceu.

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