Episódio 20 | Jouichirou e Omeshirama

[Fesant]

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Abertura

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[18:30] Konoha. Setor Sul

A chuva já caía com mais vigor e o céu estava tingido de puro negro. Quase não havia mais iluminações, mas as luzes das lutas que ecoavam pela vila vez em quando acendiam o espaço. De pé sobre um telhado, Jouichirou olhava para cima na infinitude turva do firmamento, parecendo querer sentir o peso de cada gota de chuva que quedava sobre si. Em sua face, uma expressão semelhante à nostalgia... Talvez o ex-líder da Anbu estivesse se recordando dos tempos de glória em que lutou ao lado de Sarutobi Tatsunori para defender Konoha, e refletindo com tristeza o conflito que se instaurara bem diante de seus olhos.

Qualquer que tenha sido seu pensamento fora cortado pelo estrondo de um trovão tão alto que parecia ter sua origem a poucos metros e si. Um clarão se fez no céu, iluminando por completo o lugar por um ínfimo instante, e Jouichirou notou que finalmente seu desafiante havia chegado. Após um novo estrondo, deixou sua voz sair, quase num sussurro.

— Omeshirama...

O Senju, que parecia trazer toda a raiva do mundo nos olhos, aproximava-se lentamente, deixando-se estar a meros 10m de Jouichirou.

— Parecia que me esperava... Desistiu da fuga? — indagou, retoricamente. Por ser óbvia a resposta, prosseguiu, sem dar espaço para o herói de guerra se manifestar — Então decidiu ficar, acabar com esse confronto sem sentido e assumir seus crimes? Acha mesmo que meu irmão descansará em paz com essa sua atitude egoísta de tentar salvar a própria pele até o último segundo? — Apesar de nitidamente raivoso, Omeshirama buscava manter o tom de voz calmo.

— Não matei Ikari, Omeshirama. Deixando mais claro: não sou o responsável por sua morte. Não ordenei a qualquer subordinado meu que assim procedesse. E para ser sincero até agora mal sei os detalhes de sua morte. Não sei onde nem como ocorreu, e muito menos o suposto motivo.

— Como ousa mentir tão descaradamente?! — gritou, não tendo durado muito seu esforço para manter-se paciente. — Ikari foi até os limites da vila, no ponto onde subordinados seus iriam se encontrar com um ninja estrangeiro, o qual já foi confirmado que era da Vila Oculta da Pedra. Ele é morto naquele mesmo lugar e você me diz que não foi sua culpa?! Poupe-me disso, Jouichirou! — bradou ainda mais alto, respirando fundo ao final para tentar recuperar a compostura — Só falta dizer que também não tem nada a ver com o atentado contra o Sandaime-sama!

— E realmente não tenho nada a ver — respondeu de pronto Jouichirou —Inclusive, eu não ganharia qualquer coisa com a morte do Sandaime, diferentemente de Keisei... e de você próprio! — reforçou — Também estou ciente que a causa do agravo da saúde do Sandaime foi envenenamento. E não é você próprio o maior especialista em venenos de Konoha?

— Sou! Sim, sou! E essa é também outra grande causa da minha ira. Desde que Tatsunori-sama foi diagnosticado, eu abri meu laboratório na sede do clã Senju para os ninjas médicos usarem minhas pesquisas. Eu mesmo também tenho passado a maior parte do tempo lá ajudando, e ainda assim não consegui elaborar nada além de paliativos para retardar a morte de meu mentor!

Jouichirou ouviu o desabafo de Omeshirama. Embora de ar verossímil, parecia ser custoso para o herói acreditar, e o mesmo permaneceu em silêncio por alguns instantes, somente fitando o Senju.

— Essa discussão é inútil. Quero saber o que você veio fazer, Omeshirama. Levar-me de volta? Já deve saber que não será algo simples. — disse, já entrando em uma posição de combate — Ah, e tenho um pedido a fazer: vamos lutar sem usar técnicas de larga escala. Embora seja justamente esse nosso ponto forte, não quero causar mais danos à vila. E você é suficientemente habilidoso para combater sem isso. De acordo?

Omeshirama respirou fundo pela segunda vez naquele diálogo. Assim como Jouichirou, projetou o pé direito ligeiramente para frente e assumiu uma posição de combate. Sem mais perguntas e argumentações, respondeu de forma curta:

— De acordo.

[Fesant]

Os dois grandes shinobis da Folha iniciam o combate, partindo em velocidade um em direção ao outro, simultaneamente. Omeshirama, mais rápido, inicia com um soco direto alvejando o rosto de Jouichirou assim que tem alcance para tanto. O Anbu, contudo, de logo mostrou que também possui boas habilidades em taijutsu, e moveu o braço direito frente ao rosto de forma horizontal, desviando o soco. Este, por óbvio, não seria a única investida inicial do Senju, que imediatamente depois buscou acertar o estômago de seu oponente com um segundo soco. Ainda atento, Jouichirou moveu agora ambas as mãos para baixo, empurrando o punho de Omeshirama na mesma direção enquanto dava um passo para trás, evitando o golpe no fim.

Jouichirou revida. Após dar o passo para trás, mantém o pé de apoio e move o corpo para frente, tentando um chute, que é esquivado pelo Senju quando o mesmo se move lateralmente. Pousando, o Anbu troca o pé de apoio e gira o corpo desferindo um novo chute, circular, o qual obrigou Omeshirama a dar um curto salto para trás. Finalizando o movimento, o herói de guerra deu um passo a frente e tentou socar o rosto de seu adversário, que novamente se defendeu ao bloquear o ataque unindo ambos os braços frente à face.

A luta prossegue no mais alto nível de taijutsu. Socos e chutes eram trocados, rasgando o ar frio e chuvoso. Cada impacto era ouvido em um eco sussurrado, somente sentido pelos dois combatentes. De início, eram somente sons de bloqueio e pousos de manobras aéreas. Depois, passaram a ser ouvidos sons de quedas, cambalhotas e urros. Os golpes começaram a conectar seus alvos.

Na contagem de ataques certeiros, Omeshirama estava ligeiramente à frente. Jouichirou era igualmente habilidoso, mas um pouco mais velho, e isto pesava. A mente e os olhos eram afiados, mas os músculos não tinham o mesmo vigor de anos atrás, e conforme a luta corporal se estendia, o cansaço ia aos poucos lhe tomando. E nesse ponto o Anbu parecia mostrar sinais e apreensão. Àquela altura, Engo já deveria estar se comunicando telepaticamente com todos os aliados, mas nada havia ocorrido ainda.

[Fesant]

O combate se eleva a outro patamar, com os combatentes passando a mesclar ninjutsu com taijutsu. Jouichirou é um dos melhores usuários de técnicas doton de Konoha, sendo comparável somente ao Sandaime. Como exímio ninja, consegue realizar selos de mão em velocidade e concentração impressionantes, sendo capaz de conjurar jutsus mesmo em pleno combate corporal. Quando Omeshirama avançava, o Anbu fazia uma pequena porção do concreto do telhado ceder ou amolecer, retirando o equilíbrio do Senju e prejudicando seu taijutsu. Quando isso não era o suficiente, fazia o chakra tornar seu corpo duro como rocha e absorver os danos dos golpes. Com o mesmo princípio, endurecia seus punhos e pés para aplicar socos e chutes mais letais.

Omeshirama não fazia diferente. O Mokuton, sua linhagem sanguínea avançada, era de fato enraizado em seu corpo, e fazer crescer qualquer pedaço de madeira a partir de seus membros era uma das coisas mais simples e eficazes que sabia. Quando faltava chão ao Senju, raízes saíam de seus pés e lhe recuperavam o equilíbrio. E quando a pele de Jouichirou parecia impenetrável, espinhos dos mais variados tamanhos brotavam dos punhos ou do braço para cortar a proteção doton.

As gotas de sangue já se diluíam nas poças de água feitas pela chuva, e a luta ia progressivamente ficando mais violenta. Omeshirama começava a col
ecionar hematomas grotescos, enquanto que Jouichirou já não distinguia outra cor em sua pele além do vermelho do sangue e dos cortes. O Anbu avançou impetuosamente, e no momento em que o Senju tentou saltar para trás, foi conjurada uma parede de terra justo atrás dele.

Não era muito alta, larga ou espessa, mas era o suficiente para impedir sua movimentação pelo segundo necessário. Jouichirou então deu mais um passo a frente e desferiu três duros socos no estômago de seu oponente. Este, sedento em cólera, conseguiu empurrar o Anbu e afastá-lo um pouco do combate corporal. Em seguida, avançou dois passos e no terceiro projetou o braço direito para frente com a mão esticada, fazendo sair dela uma estaca elíptica de madeira, visando o pescoço de seu oponente. Jouichirou levou os braços à frente para tentar bloquear o ataque enquanto endurecia sua pele, mas no último instante abaixou os membros, deixando a guarda aberta. A estaca passou pela defesa vazia aproximando-se da garganta do Anbu, e aí parou. Omeshirama conteve o ataque no segundo final, permanecendo parado naquela posição.

— Realmente parou o ataque... Apostei alto, mas ganhei... — disse Jouichirou, extremamente ofegante. — O Conselho não deve ter lhe dado permissão para me matar, e você não iria fazer isso, pois pretende ser o sucessor do Sandaime. O novo Hokage não pode ter o sangue de um herói de guerra nas mãos. Não pode tirar a vida de um herói que não teve um julgamento “justo” perante o povo de Konoha, não é mesmo? — Após dizer isso, o Anbu deu um salto para trás, afastando-se cinco metros. — E então, o que pretende fazer, Omeshirama? Se eu lutar na defensiva, você sabe que não terá condições de me capturar vivo. E se você for agressivo, tem a certeza de que irei me desfazer de minha vida para que você perca nos seus objetivos. Se não sou capaz de lutar pelos ideias de Tatsunorimi-sama em vida, pelo menos irei deixar um legado com minha morte. O que fará, Senju Omeshirama?

[Fesant]

O Senju nada disse por um minuto inteiro, limitando-se a somente manter-se parado e ereto, olhando fixamente para Jouichirou. Sua reação deixava claro que as conjeturas do ex-líder da Anbu eram verdadeiras.

— Não sei se sua sede de vingar seu irmão lhe cegou o raciocínio ou se foi mero deslize em um plano mais complexo, mas está claro que você não esperava por isso. — falou novamente Jouichirou, quebrando o silêncio.

— Não esperava. Em verdade, a única coisa que vinha em minha cabeça era a sua morte — confessou, passando então a baixar a guarda, desfazendo as técnicas que lhe cercavam — Vá embora de uma vez, Jouichirou! Mas lembre-se que assim que pisar os pés fora de Konoha será um Nukenin, e terá uma recompensa se for pego vivo ou morto. E tenha certeza que a partir daí não pouparei esforços para lhe dar o que merece.

— E você tenha a certeza que voltarei para Konoha, vivo, com minha inocência provada. E se por um acaso você ou Keisei estiver como Hokage, farei de tudo para tirá-los desse posto.

Um segundo antes de Jouichirou terminar, dois Anbu aparecem ao seu lado, visivelmente feridos. E tão rápido apareceram quanto se foram, juntamente de seu líder.

(...)

[18:40] Konoha. Palácio do Hokage

Os sons de luta pareciam diminuir paulatinamente. E assim, somente o som da chuva restou naquela noite. Zeru tinha deixado um clone com Henge disfarçado de pássaro sobre um galho de uma árvore próxima ao quarto do Hokage. De lá, iria monitorar tudo, por mera precaução, e assim qualquer fato superveniente seria logo passado ao Zeru original quando o clone fosse desfeito.

Com sua audição aguçada, o clone acompanhava o estado de saúde do Sandaime. Ouvia a respiração pesada de um corpo que luta para sobreviver. Ouvia as batidas do velho coração que impulsionava todo o sangue sedento por vida. E ouvia as gotas de chuva gradativamente reduzindo a frequência de queda. A cada vez que notava a maior demora entre uma gota e outra, sentia o palpitar do Hokage proporcionalmente mais lento. Cada vez mais lento... Quando a última gota de chuva tocou o chão molhado, ouviu também a última expiração do enfermo, e a última batida de seu coração cansado. O silêncio da noite compactuou com o silêncio de vida naquele quarto. Sarutobi Tatsunori, o Terceiro Hokage, não mais vivia.

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Encerramento

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